Esta abordagem perpassa sobre os aspectos da trajetória desde o início do projeto do Salão do Livro da Região do Baixo Amazonas, a mudança de denominação e perspectivas de futuro, a efetiva inclusão da região metropolitana do Tapajós formada pelos municípios de Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos, no Oeste do Pará.
No período de 9 a 17 de novembro de 2019 foi realizado o mesmo projeto, com a denominação de Festa Literária de Santarém, no Espaço Pérola do Tapajós, no Parque da Cidade. Penso que a expectativa da visita de 50 mil pessoas ao local do evento expressada pelo secretário de cultura de Santarém foi superada, considerando como público alvo professores, estudantes e a comunidade em geral.
O projeto, no entanto, que é do Governo do Estado do Pará, já ocorre em Santarém há mais uma década. Recordo que a primeira edição foi realizada em 2008, no mandato da ex-governadora Ana Júlia Carepa (2007-2011), depois Simão Jatene (2011-2015/2015-2019) e agora com Helder Barbalho (2019). Até ano passado (2018) foram realizadas dez edições, com o nome de Salão do Livro da Região do Baixo Amazonas. As duas primeiras, nos anos 2008 e 2009 foram realizadas na Praça Barão de Santarém, conhecida como Praça de São Sebastião. A partir de 2010, o Salão do Livro passou a ser realizado no Espaço Pérola do Tapajós, denominação do Galpão que a prefeitura de Santarém recebeu da Federação da Indústria do Estado do Pará (FIEPA), uma estrutura metálica coberta com lona, que estava em Belém, provavelmente, subutilizada, mas muito bem aproveitada em Santarém, para atender diversos eventos culturais, sociais e religiosos de grande porte.
A proposta do Governo do Estado, ao realizar o Salão do Livro em Santarém, seria envolver os demais municípios do Oeste do Estado, o que efetivamente não aconteceu. É que na condição de representante legal da Academia de Letras e Artes de Santarém (ALAS) tive a oportunidade de acompanhar todas as edições e isso ficou muito claro. Nos dez anos que antecederam a Festa Literária de Santarém não se percebeu motivação ou interesse de participação dos municípios da região, a não ser Óbidos e Itaituba. O município de Óbidos participou nos anos de 2008 e 2009 em virtude dos homenageados serem os obidenses Inglês de Sousa e José Veríssimo. Ambos foram indicados pela ALAS e acatado pela Secretaria de Estado de Cultura (SECULT); a participação da cidade de Itaituba foi motivada pelo professor Nato Aguiar, que naquele período estava diretor de cultura daquele município. Fora esses dois municípios, o Salão do Livro da Região do Baixo Amazonas ficou restrito a Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos devido à proximidade e a facilidade ao deslocamento das pessoas.
A Festa Literária de Santarém apesar de ter mantido praticamente o mesmo teor do primeiro projeto, houve algumas inovações importantes, com a inclusão das vozes dos Homenageados, Lgbtqia+, Afro-brasileiras, do Imaginário, da Mulher, Indígenas e Originárias, do Autor e Urbanas. Algumas dessas vozes representam as minorias, mas que precisam ser ouvidas em espaços democráticos, conforme proposta do novo projeto.
Incluindo o Salão do Livro da Região do Baixo Amazonas e agora a Festa Literária de Santarém já são 11 anos de realização desse projeto que se tornou muito importante e necessário à região metropolitana do Tapajós. E como testemunhei os encaminhamentos desde o início até os dias atuais percebi também que entre as iniciativas que visam a realização do projeto, as principais são a garantia econômica para aquisição de livros, a organização e a mobilização do público alvo, a programação e o espaço de realização.
Como este texto é propositivo, a minha análise sobre os itens considerados importantes, para a realização da Festa Literária de Santarém, em primeiro lugar destaco a garantia econômica. Em 2019, a prefeitura de Santarém, na pessoa do Prefeito Nélio Aguiar, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed), por intermédio da professora Mara Regina Xavier Belo, garantiu ao Credlivro R$ 559.059,00 e o governo do Estado pouco mais de R$ 300.000,00, mas com a vinda dos professores de outros municípios o investimento financeiro específico para aquisição de livres deve ter se aproximado de um milhão de reais, entre as participações do estado e do município de Santarém.
A nossa sugestão é que os três municípios que formam a região metropolitana do Tapajós se organizem, por meio de políticas públicas, no sentido de garantir recursos anuais e contribuir para a efetivação do projeto de incentivo a leitura no interior do estado. Como se trata de recursos públicos, uma atribuição específica do Executivo, que enviem mensagem ao legislativo para que a previsão destinada ao Credlivro seja incluída no orçamento anual, aprovado pelas câmaras municipais, visando o exercício de 2020. Essa iniciativa do Poder Executivo representaria a garantia econômica, aliada a uma divulgação prévia. Com isso, a organização da Festa Literária teria condições de estimular a vinda das editoras de ponta, com preços mais acessíveis, bem como um acervo de livros mais qualificado. A Festa Literária deste ano (2019) foi muito bem sucedida, mas sobre a qualidade dos livros para pesquisa e sobre os preços ouvi muitas reclamações de que as ofertas estavam acima dos valores de mercado comercializados pela internet, incluindo o frete. Elevados preços não ajudam o projeto, considerando que a principal proposta é facilitar o acesso ao livro, por meio de preços mais acessáveis, para atender todas as camadas sociais.
Sobre a organização e a mobilização do público alvo, em mais de uma década os colaboradores de Santarém já aprenderam o suficiente e penso que já conseguem organizar o evento, de maneira mais autônoma e com antecedência, sem o propósito de dispensar a participação da SECULT. Nesse item precisa de um bom agendamento com antecedência e planejamento, dialogado com o calendário escolar do município e do estado, visando à garantia de público todos os dias, em se tratando de professores e alunos.
Com relação à programação, percebeu-se que mais de 80% do conteúdo seja do antigo Salão do Livro ou da atual Festa Literária é garantido localmente por artistas, escritores, professores e pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), da Academia de Letras e Artes de Santarém, da 5ª Unidade Regional de Educação (URE), da Secretaria Municipal de Educação (Semed) e do Instituto Histórico e Geográfico de Santarém (IHGTap), entre outros.
Em se tratando do espaço destinado à realização do evento, representa uma preocupação, uma vez que está precisando de investimentos para melhorar estrutura atual e, assim, oferecer conforto aos visitantes e aos expositores, que pagam caro para comercializar seus produtos. Além disso, os equipamentos públicos do município de Santarém precisam ser colocados a serviço do projeto, observando os ambientes interno e externo. Internamente, uma das necessidades mais urgentes é a manutenção da estrutura de sustentação do galpão e a troca da lona que já venceu há muito tempo, além de um sistema de refrigeração que amenize o calor insuportável. Externamente, por ocasião da Festa Literária, as linhas de ônibus, que circulam por meio de concessão pública, deveriam ser desviados e passar pela Feira Literária, para atender a demanda da população. Com essa iniciativa a gestão municipal estaria contribuindo com o aumento de pelos 30% do público, que deixa de frequentar o evento por falta do transporte coletivo; outra iniciativa importante, em termos de estrutura externa é a organização de um estacionamento, o que tornaria o deslocamento tanto na chegada quanto na saída das pessoas menos perigoso e mais tranquilo.
Sobre o nome do projeto se poderia até pensar em uma denominação mais abrangente, no sentido de incluir os municípios de Belterra e Mojuí dos Campos, mas tudo isso, sem abrir mão dos investimentos financeiro e técnico do Governo do Estado do Pará, por meio da SECULT. Além disso, a própria Secult poderia nomear uma coordenação anual formada por representante da UFOPA, ALAS, SEMED, 5ª URE, IHGTap para evitar que a organização do evento fosse feito de última hora como tem ocorrido desde o início do projeto. Uma comissão de coordenação com autonomia para viabilizar o projeto desde o início do ano, como ocorria com a Feira da Cultura Popular que ao final de cada evento já se elegia a coordenação do próximo ano, com liberdade para pensar a próxima edição.
Penso que a I Feira Literária de Santarém neste ano de 2019 foi razoável, com justo reconhecimento ao empenho, profissionalismo, competência e dedicação dos colaboradores da Secult que são incansáveis, ao lado das instituições e entidades de Santarém que juntos fizeram de tudo para realizar os melhores eventos dos últimos 11 anos. Reconhecimento especial a ALAS, na pessoa do presidente doutor Anselmo Alencar Colares e em nome dos seus integrantes, que em mais de uma década ajudam, voluntariamente, na realização do antigo Salão do Livro e agora a Festa Literária, contribuindo com o Encontro Literário, Papo Cabeça, Roda de Conversa, Programação Cultural, com a organização do evento e ainda participa da exposição com stand.
Para finalizar, penso que a formação de leitores é uma iniciativa necessária que depende de tempo, por se tratar de um processo; de investimento dos Estados e dos municípios, a partir de políticas públicas permanentes e não apenas da vontade dos gestores de plantão e do envolvimento efetivo da tríade: família, escola e comunidade. Por isso, a sugestão desta reflexão é que se crie um consórcio envolvendo a região metropolitana do Tapajós formada pelos municípios de Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos, por meio da implementação de políticas publicas destinadas ao Credlivro a fim de consolidar a Festa Literária no interior do Pará.
Fonte: Portal Santarém