Trinta e nove anos depois do naufrágio do Navio Sobral Santos II, no Município de Óbidos, oeste do Pará, o perito criminal aposentado, Luiz Fernandes de Oliveira conta detalhes sobre o serviço de identificação e preenchimento dos autos de reconhecimento dos cadáveres.
Personagem da maior tragédia da navegação fluvial da Amazônia, o Navio Sobral Santos II, após atracar no trapiche municipal de Óbidos, por volta de 03h05, do dia 19 de setembro de 1981, adernou, matando mais de 340 passageiros. O navio saiu do porto da Cidade de Santarém, com 200 toneladas de cargas e 530 passageiros, com destino à Manaus (AM).
Luiz Fernandes revela que passou três dias trabalhando na identificação dos corpos. Ele confirma que o navio era de ferro, com três passadiços, parecido com a embarcação Anna Karoline III, que naufragou no Sul do Amapá, no dia 29 de fevereiro de 2020.
"Foram vitimadas mais de 300 pessoas no Sobral Santos. Passei três dias trabalhando na identificação dos corpos. Mais de 100 cadáveres foram periciados. Os corpos foram enterrados em valas", contou Luiz Fernandes.
De acordo com ele, a Cidade de Óbidos, neste período ficou de luto. Porém, o povo foi hospitaleiro, generoso e de uma misericórdia extraordinária.
"Aproveito este momento, para agradecer pela ação meritória. Coincidência ou não, meu parecer técnico forense sobre o Anna Karoline: este navio deveria passar por um exame pericial técnico, com acurácia profissional, com alta performance tecnológica, isto é, feita por especialistas em engenharia naval", disse.
Luiz Fernandes desconfia que o problema do navio Anna Karoline III pode ter ocorrido na estrutura de sustentação de toneladas.
"Ele pode ter tido problemas no seu arcabouço/estrutura da sustentação de toneladas de peso/massa. Seu epicentro não deveria estar equilibrado, ao ponto de suportar os balanceios laterais dos dois lados ou só de um lado", aponta o perito aposentado, lamentando os dois eventos trágicos nos rios do Pará e do Amapá.
"Damos nossos pêsames aos familiares e amigos das vítimas. Lamentável! Aqueles três dias passados em Óbidos aumentaram em mim, minha sensibilidade humana. Ficaram marcados em minha vida profissional de perito criminalístico. Foram tantos cadáveres, de várias idades. Foram vidas perdidas", complementou Luiz Fernandes.
Por: Manoel Cardoso
Fonte: Portal Santarém