Moradores do bairro Industrial da Vila do Conde, em Barcarena, nordeste do Pará, denunciaram ao Ministério Público do Pará (MPPA) e à Delegacia de Meio Ambiente (Dema), da Polícia Civil, uma suposta contaminação por caulim na água fornecida à população pela Água de São Francisco. A empresa assumiu o abastecimento do município, por contrato licitatório com a Prefeitura do município.
Os moradores acreditam que os poços particulares da área podem ter sido contaminados pela mineradora Imerys. Em nota, a Imerys informou que não há nenhuma relação entre as atividades da empresa e a coloração esbranquiçada da água que abastece as casas do bairro Industrial.
Após a denúncia, a 2ª Promotoria de Justiça instaurou um procedimento para apurar a situação e recomendou à mineradora Imerys que seja feito imediato fornecimento mensal de 80 litros de água potável para as famílias residentes do bairro Industrial, já que a área está fora da área de atuação da concessionária.
Segundo a promotoria, as famílias estão impossibilitadas de utilizar a água dos poços e torneiras, até que as providências definitivas sejam tomadas. Uma equipe técnica do MPPA esteve no local na última segunda-feira (23) e constatou que a água da estação de tratamento do bairro apresentava alteração.
À Dema, os moradores informaram que a água fornecida pela Água de São Francisco passou a apresentar odor e coloração diferente, assim como a pressão começou a diminuir. De acordo com os relatos, muitas pessoas começaram a apresentar doenças de pele e dores no estômago.
Ainda segundo os moradores, cerca de 1300 famílias estão sem água. Eles afirmam que o abastecimento de água foi interrompido entre os dias 16 e 18 de julho, retornando no dia 19 com uma coloração branca e com odores fortes, ocasionando coceiras. Os moradores disseram também que tentaram contatar a administração da subestação da empresa Água de São Francisco, mas o problema não foi resolvido.
Segundo os denunciantes, a Dema, a Vigilância Sanitária Municipal e o Centro de Perícias Científicas Renato Chaves fizeram coleta de amostras de água na região. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) também estaria acompanhando o caso.
Os moradores relataram, ainda, possuem exames médicos apontando a presença de metais, como cromo, alumínio, níquel, chumbo, cádinio, em volume dezesseis vezes acima do valor máximo permitido, e afirmaram que não saem do local, pois o processo indenizatório ainda está em curso na Justiça.
Em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade informa que não foi comunicada oficialmente sobre o ocorrido, mas que vai acompanhar o caso. A Semas esclarece que o município de Barcarena se declara apto na gestão ambiental e é o responsável pelo licenciamento e monitoramento da concessionária em questão.
Já a Imerys garantiu que não há nenhuma relação entre as atividades da empresa e a coloração esbranquiçada da água que abastece as casas do bairro Industrial. A empresa informou que reforça seu compromisso com a transparência e segurança em suas operações e assegura a normalidade das atividades.
Distribuição interrompida
A Águas de São Francisco informou em nota que a região do Distrito Industrial está fora da área de atuação da empresa. O bairro não é considerado área urbana pelo contrato de concessão de água e esgoto, firmado com o município de Barcarena.
Mas a concessionária disse ainda que presta apoio a comunidade por meio de seu corpo técnico sempre que acionada e após receber a notificação dos moradores interrompeu a distribuição da água do referido poço. De acordo com a empresa, a comunidade está sendo abastecida através de outro poço tubular profundo.
A Polícia Civil informou que uma equipe da Dema estiveram em Vila do Conde para verificar a situação. Técnicos do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves coletou amostras da água para realizar a perícia.
A água da cisterna estava com uma cor branca leitosa e um odor fétido. A amostra será encaminhada ao Laboratório Central do Governo (Lacen).
De acordo com a Polícia, moradores da comunidade prestaram declarações e informaram que a maioria deles apresenta doença de pele por conta do uso da água.